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Sexomática, por Tutti Levin

 

O que eu deveria fazer? Te esquecer ou me perder por aí? Afinal de contas, lá embaixo, na cidade, sempre andei desacompanhada e nunca dependi de ninguém.

Eram 3h15 da madrugada quando a putinha terminou seu strep-tease deitando no colo de um japonês bêbado. Depois do show saiu correndo miudinho rumo ao camarim. Com uma mão tapava a bucetinha sorridente e com a outra os peitinhos empinados. Cobrou 50 reais para tirar a roupa no meio do salão, e por outros 20 fazia chupetinhas no banheiro, atrás do palco. Eu costumo fazer isso por prazer mas na minha cabeça Belle & Sebastian e Paraíba não combinam, e eu ando ouvindo B&S ultimamente. A situação é ridícula: no palco mal espelhado alternam-se shows de sexo ao vivo e karaokê, em meio a silêncios constrangedores e mal mixados pelo DJ. Talvez fosse o teor alcóolico mas juro que ouvi Tom Waits, Born to be Wild, Legião Urbana além das canções japonesas que, depois fiquei sabendo, as garotas cantam apenas para agradar os japas que pagam melhor. Foram o hit da noite.

Depois do terceiro uísque qualquer gerente de supermercado pensa que o mundo é mesmo uma coisa muito louca e acaba subindo no palco para fazer o seu show. Gordinhos de camisa e gravata se animam e transformam São Paulo numa mistura de sexo vagabundo e produção capitalista. Porcos sem asas. Penso que algo ali não cheira bem e, enquanto isso, Jonas sorri para uma garota de programa, grudando-a no balcão. Ele diz que sempre estou viajando demais e que tudo é possível e normal neste planeta mas como sou mulher não consigo relaxar nessas situações. Podemos transar à três e isso me deixa mais nervosa. Reação previsível. Pelo menos até o fim da noite. "Seja puta por um dia" - propõe. Acho engraçado, pois me sinto um pouco puta todos os dias, e não ligo. Esse não é o meu problema, não sou puta.

Tem um cara passando a mão na minha bunda e até que não é tão mal assim, mas é melhor pararmos por aqui.

Desde que me separei quase nada mais me surpreende e tudo se repete o tempo todo. Óbviamente não quero ficar deprimida e descobri que cair na farra é o melhor remédio, depois do Lexotan. Como as coisas se alternam e ando de saco cheio, digo para Jonas que acho as meninas tímidas e recatadas demais para minhas espectativas. A noite está fria, e eu estou ansiosa e quero pegar fogo. Não são putas, afinal de contas? Meu amigo diz que as coisas são assim, quanto mais se espera menos se contenta. Daqui a pouco a coisa engrena. Encaro o DJ da casa e praticamente o obrigo a trocar alguns olhares sedutores comigo mas trata-se apenas de um teste. Não vou transar com ninguém aqui dentro. E quero ir embora!!

De novo, outra mão na bunda. Desta vez são dois garotos. Um deles pensa que sou garota de progrma e diz que adorou o meu corte de cabelo. Sorrisos, deixa pra lá. Agradeço. A música fica mais alta e o Dj manda recados tentando esquentar a festa. Vou até o banheiro e cruzo um cara interessante que parece estar perdido. Uma mulata cochicha no meu ouvido "Isso aqui parece um filme" e sai rindo. Fico confusa e acho que tenho que fazer alguma coisa mas quando me viro de volta o cara não está mais lá. O banheiro, como sempre, é sujo e dá nojo.

Volto para a pista e um funk carioca rola pesado. Acompanho Jonas num uísque e isso me faz pensar que a noite pode mesmo pegar fogo; eu é que fico travando. Vejo de novo o carinha interessante. Ele agora está próximo a uma coluna, ao lado da pista de danças, e parece encantado pela garota que faz topless em cima do balcão. Parece à vontade mas está deslocado no lugar, eu sei. Meu! Esse cara é legal. Sei pelos seus olhos e sua roupa.

Procuro chegar perto mas um sujeito quase me derruba com seu pau duro dentro das calças. Vontade de dar uma porrada no filho da puta que sai rindo e todo suado. Deve ter cheirado uma tonelada de cocaína e acha divertido meter o pau na bunda dos outros. Jonas viu tudo de longe, com calma. Afinal de contas, estamos num puteiro. Não quero saber de mais nada.

De novo, perdi o cara interessante.

São 4h30 da madrugada e proponho que terminemos a noite na Lôca, o único lugar aonde me sinto bem na noite paulistana. Jonas adora a baladinhas trash de São Paulo e hoje tem Grooverider, um DJ inglês que toca um ultracore ou qualquer coisa parecida. Ele topa e saímos aliviados daquele puteiro.

Pegamos um táxi rumo a rua Augusta e fico pensando em sexo e na cidade de São Paulo; cidade aonde tudo é consumo e se consome numa produção sem fim. Meu fim de noite é sempre igual. Sei que é loucura pensar dessa forma. Afinal de contas, tudo é fase e logo estarei me sentindo melhor. Estou apenas um pouco enjoada de tanto beber.

"Primeira à direita, por favor" - a voz de Jonas parece vir de longe, dentro do táxi, e me ajuda a voltar à terra. Descemos na esquina e quando entramos no bar senti um clima infernal porém frio. O contraste com o Tutti's é gigante, mas dá quase no mesmo. Merda, hoje estou com o diabo no corpo.

Não sei o quero mas o DJ pesa a mão e entro numa onda legal. Apertei a tecla foda-se e vou dançar sozinha por mais algumas horas.

Thanks baby, for leave me alone. No sex tonight

 

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