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Entrevista com um pornografo


Paulo Leminski costumava reproduzir pornografia como uma maneira de fazer dinheiro, hoje ele e’ nome de rua e parque. De xuxa a madonna, quem nao tocou o dedo do pe’ no soft porn? Em Los Angeles, terra da mansao Playboy e do imperio de Larry Flynt (o consulado brasileiro ocupa um andar de seu predio!), pornografia e’ parte de hollywood.
Atravessando a montanha, ao norte de hollywood, em San Fernando Valley, voce encontra a maior industria pornografica do mundo: companhias puxando noventa milhoes em revenues por ano, mais que muitas multinacionais famosas. O mundo porn, dos strip clubs e massage parlors, e da nova industria de vhs, dvd e internet, anda muito bem obrigado, apesar da crise economica nacional. Meu amigo trabalha como analista financeiro na maior companhia porno do mundo. Estamos na sua casa, no Distrito de Fairfax, perto do centro de LA, jogando X-box e tomando Red Bull com vodka.
E aquela entrevista que tu me prometeu?
Nao, nao – acho melhor nao fazer esta entrevista, Mars. Nao quero ficar conhecido como "pornografo" – que fama e’ essa? Acho melhor nao fazer.
C’mon! Eu nao ponho teu nome. Ainda mais que e’ no Brasil, tu nunca vai ir ao Brasil, quale’ a change que uma menina brasileira vai ler isso, se mudar pra LA, te conhecer, e lembrar desta coluna? Isso e’ um problema? Esta "fama" complica com as meninas, por exemplo?
A maioria das menina daqui sao "cool" com isso, eu so’ conheci uma que achava que isso era mal, eu acho que ela disse que era um negocio nojento. Mas em minha cidade natal (em Ohio) teve muitas meninas que reagiram diferentemente, elas se surpreenderam e ate’ se escandalizaram um pouco em conhecer um pornografo. As meninas de LA estam acostumada com a ideia de Palyboy e outros coisas de conteudo "adulto" (adult enterteinment = entertenimento adulto = pornografia), entao nao se importam.
Entao quando tu voltas a Ohio, pra...sei la’...janta de acao de gracas, a tua familia te azucrina? Como teus pais reagem?
Meus pais nao tem a minima ideia do que faco, mesmo quando trabalhava pra Playboy.
Minha mae e’ super religiosa, super protestante, tipica americana branca do centro medio do pais, mais puritana impossivel – se ela soubesse teria um ataque de coracao e morreria em cima do peru da janta de acao de gracas.
Deve ser dificil de manter uma vida secreta assim. Mas as vezes, nao tem jeito de mascarar, como no banco ou qualquer lugar onde tens que identificar onde trabalhas (sua companhia e’ reconhecida mundialmente no mundo porno)
A maior parte dos servicos, como o de contabilidade, costumava ser contratado a outras empresas, mas como crescemos tanto, compramos estas empresas – mas deixamos seus nomes, ou seja, meu cheque de salario vem de uma empresa chamada ...(nome em espanhol). Meus coroas sabem que trabalho ligado a hollywood, nao entendem bem, mas sabem que e’ em filme.
Todos meus amigos na industria sao advogados, como tu, isso e’ preciso?
Nao, mas ajuda. E’ que tu so conhece os caras como eu, nos departamentos legais e financeiro, ou escritores – a galera que faz os pornos sao outra: e’ uma loucura: muita coca, meninas que vieram do interior tentar a vida em hollywood mas terminam em porn, o indice de suicidio e’ incrivel – e’ um negocio nojento mesmo.
Tem gente que ve arte ou politica nisso.
Bobagens. E’ grana, so’ isso – por isso nao quero fazer esta entrevista. Nao tenho nada a te dizer pra justificar o que faco pra me sustentar. E’ so’ isso: pra me sustentar. Nao ha’ outro entendimento maior, e’ grana mesmo.
Ok, talvez eu escreva tudo isso numa entrevista, talvez eu nao faca. Como tu nao vives no brasil tu nunca vai saber! A nao ser que um dia tu encontre alguem aqui que te diga que leu uma entrevista com o carinha muito parecido contigo. Tu me processaria?
Nah! Nao me importa! Mas se tu escrever, nao poe meu nome!
Marcelo Cavalheiro e’ terapeuta e diretor clinico de um centro psiquiatrico em Long Beach, Los Angeles, e vive em exilio voluntario a mais de doze anos. Cheio de tatuagens, metro e oitenta e cinco, cento e dez kilos, mars pros mais chegados, costuma notar magoado que velhinhas atravessam a rua pra nao lhe cruzar na calcada. Suas bobagens sao publicadas em revistas e fanzines no Brasil, Espanha, California e Maine.

Marcelo Cavalheiro

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