Qual
será o destino de Horny Bunny?
Não tenho mais a coragem de me fazer de ingênuo ou cínico
apenas por entretenimento ou diversão retórica. Qualquer
taxista ou polemista razoável sabe que ao ignorar a solução
de um problema basta fazer da própria ignorância a força
de seu argumento para interditar ou sair-se bem numa discussão.
O cinismo e a ignorância se complementam e sempre vencem quando
se trata de jogar tudo no ventilador. Madonna e uma boa parte dos anos
oitenta foram pródigos nesse espírito. Afinal de contas,
para suportar com alegria a caretice da era Reagan somente cantando "Like
a virgin" com doses de cinismo.
Se o mundo despencou ou não num abismo depois dos atentados nas
torres gêmeas, e da guerra do Iraque, ninguém sabe. Mas,
por enquando, parecem suspensas as ilusões em novidades produzidas
nas ruas de Londres ou Nova Iorque (capitais mundiais da atitude jovem),
e de um capitalismo em permanente expansão e dedicado a rechear
de novidades as prateleiras do "marketeen".
Basta ler algumas das principais revistas do jet-set modernex, como Dazed
and Confused, Nylon ou The Face, para ver a maioria dos editoriais apontando
para o passado low-profile de uma juventude dourada pelo pós-guerra.
Bandas setentistas como White Stripes desprezam as mecânicas da
sociedade de consumo e gravam seus discos em estúdios analógicos
em busca de algum elo perdido. Contradições fazem senitido.
Se a política fermentou a contra-cultura nos anos setenta e o espírito
das ruas se converteu em royalties, uma boa alternativa é procurar
por alguma virtude do passado que não esteja contaminada por um
projeto de consumo que nos conduziu a guerras e terrorismo. Política
de novo?
Horny Bunny é o apelido de um cara engraçado que usa topete
de Elvis Prasley. Trocou Porto Alegre por Nova Iorque em 1989 e conta
que nos EUA fez algumas pontas em filmes pornôs, comprou uma motocicleta,
e diz que "lá fora" o Brasil está na moda. Quer
voltar ao país e pede conselhos. Não sou padre e pergunto
se ele não teria dificuldades em se readaptar aos trópicos.
Ele, que sempre foi um durão, reponde que anda sentindo falta do
calor e da sensibilidade brasileira, e diz que o Brasil vai ser o maior
país do mundo em breve. E eu, que não tenho mais a coragem
de me fazer de ingênuo ou cínico apenas por entretenimento
ou diversão retórica fiquei quieto. Para mim Horny Bunny
tem a cara dos anos oitenta e me pareceu meio perdido, mas desde o seu
telefonema não paro de pensar no seu destino.
Aposto que no verão ele volta.
Mauro
Dahmer - publicado na revista MTV novembro 2003
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