TOME CONTA |
Se eu fosse um maluco Se eu fosse um iraquiano
provavelmente também estaria feliz ao arrastar a cabeça
de uma das estátuas de Saddam pelas ruas de Bagdá. Ou talvez
estivesse exilado em algum país com liberdade para dizer aquilo
que penso. Se eu fosse um americano
provavelmente eu estaria nas ruas de Washington ou Nova York protestando
contra a guerra, e um tanto assustado com aquilo que está acontecendo
com os Estados Unidos e suas soluções militares e noções
de liberdade. Se eu fosse um cubano
provavelmente eu estaria na oposição a Fidel Castro, pois
condenar jornalistas e dissidentes de seu regime à prisão
e morte, aproveitando o barulho das bombas em Bagdá, foi uma estupidez
assassina que ultrapassa até mesmo as loucuras de Pinochet no Chile.
Penso até que as esquerdas latino-americanas deveriam assumir a
responsabilidade de libertar o povo cubano de forma democrática
já que são a única força política que
pode fazer isso no momento. Se eu fosse um maluco
provavelmente eu me pintaria de verde, uivaria como um louco e faria de
conta que nada disso é comigo. Virava árvore no meio da
floresta amazônica e "dava um tempo" para esfriar a cabeça.
Mas como minha cidade
está cheia de balas-perdidas, problemas ambientais, prostituição
infantil e todas essas coisas que fazem o Brasil despencar num precipício
de abandono, acho que chegou a hora de fazer algo por mim e pelos meus
amigos. Mesmo aqueles que eu não conheço, e eu nem saiba
ao certo o que fazer. Vale organizar protestos, criar campanhas, conversar com os amigos, trocar emails, pressionar o congresso, buscar espaços na imprensa, organizar festas e campeonatos de protesto. Enfim, criar um ambiente próprio de discussões e propostas que ninguém criou antes. O tempo é esse, a hora é agora, e a vida, como vimos em Bagdá, é uma só. mauro dahmer - revista mtv /maio2003 |