<mauro> ... aqui em pindorama, salvo os telejornais e os 10% (ou menos) da população relativamente instruída, pouca gente parece se importar ou perceber no que essa guerra pode afetar suas vidas. Desses, boa parte prefere demonizar os EUA por quase todo o mal que existe no mundo. Coisa que mais me parece uma certa inveja do pênis de papito do que boas intenções para produzir uma crítica inteligente. Em todo caso, parece bem mais razoável compartilhar uma decisão que produzirá tantas mortes e destruição junto com as Nações Unidas. Essa "autorização" igual será conseguida caso o Iraque não se desarme. </mauro> <!--5:43 PM-->
<mauro> ...um caubói nervosinho e um tanto provinciano, só que com o botão das bombas ao alcance da mão. Sabe o que, andei trocando bons emails com um jovem jornalista nova-iorquino até os ossos, e a coisa realmente está complicada para o lado deles. O americano médio por enquanto concede o benefício da dúvida para Bush, apesar de seus índices de popularidade estarem caindo. Isso quer dizer que ninguém quer levar mais bombas, aviões ou armas químicas na cabeça e apoiam uma ação. Mesmo os americanos que não são "bushistas" preferem aceitar o mal-estar de um presidente duvidoso, com a possibilidade de trocá-lo em dois anos, do que defender uma paz com inimigos ocultos e correr o risco de ver outro 11 de setembro por perto. (Não que eu concorde com isso mas me pareceu um quadro razoável quando descrito por uma americano liberal que mora a poucas quadras do World Trade Center)
Considere-se os fatos de que Saddam, além de ser um ditador sanguinário, é um antigo inimigo americano (ainda que já tenham sido amigos); que ele não só tem armas químicas de destruição massiva como já as utilizou contra seus inimigos e populações civis; e que ele está sentado sobre as enormes reservas de petróleo, com interesses americanos, russos e alemães na possível bufunfa que isso renderia...
Considere-se o fato de que milhares de americanos morreram longe de casa para libertar Roma, Paris, Berlin, Bruxelas e outras cidades europeias de um outro ditador assassino. E que ao final da guerra fria outros países que estavam do lado de lá do muro aderiram ao modo de vida das democracias ocidentais. Isso, para o americano médio, quer dizer que alguma razão eles sempre tiveram.
Putz! Não que eu concorde com isso mas são argumentos que ando escutando. Em todo caso, tirar a metralhadora de um macaco deve se mais fácil do que parar essa guerra.
</mauro> <!--12:19 PM-->
<Hana> news from hell tá aqui no hemisfério norte...
o GWBush é inacreditável, parece um pastor evangélico numa classe de ginásio.
como acreditam nele?
ou é uma farsa planetária??
</Hana> <!--3:42 PM-->
<mauro> Piiuii!! Não tinha pensado nisso de não publicar!!Boa essa!! </mauro> <!--8:59 PM-->
<Hana>
Eu não tava mandando publish porque no blog que mantenho com algumas amigas a gente não publica...
foi isso, peguei o hábito. dishculpa.
Fiquei sabendo da participação do Hermano pelo texto que você copiou aqui. Depois entrei no site vivafavela ou algo assim e li também as cartinhas sem graça da Kátia e do Fernando e parece que com o grito conseguiram-se algumas parcerias. Eu gostei muito do filme e do livro, e confesso que fiquei distraida do fato de que CDD continua lá, com as pessoas tendo dificuldade para conseguir emprego e com a polícia. Então achei o grito do MV Bill muito importante, e sinto que ele ainda não foi devidamente respondido. Acho que a questão é complicada e deveria se extender a todas as formas de representação dos pobres e da favela. Quer dizer, não queria que a conversa acabasse em panos quentes, em "eu trabalho com a sua irmã" e "fiz o seu clipe" ou "o que vc quer que eu faça?"
Era uma chance de discutir, dialogar... mas enquanto uns estão em CDD outros estão em LA.
De qualquer forma me emociono com o Hermano. Ele é uma figura única e nada vaidosa, o que acho que faz a maior diferença.
abrações
Haná
</Hana> <!--6:21 PM-->
<mauro> Putz! Isso aqui está parecendo "news from hell". O rapper Sabotage foi assassinado horas antes de embarcar para o Fórum Social Mundial de Porto Alegre aonde faria um show. Tinha deixado a mulher dele no trabalho e o negócio foi violento.
Haná>>> Como vc deve saber o Hermano Vianna é que se dispôs a ajudar na confusão com o Cidade de Deus.
Daí o José Genoíno levou uma torta na cara de um ativista gringo no FSM. A acusação era de que o PT está se "vendendo" a Davos. Bem...depois disso um ativista palestino colocou o dedo na cara de um grupo judeus que propunha o diálogo entre judeus e palestinos. O que me espanta é que as acusações são genéricas contra o "povo judeu" que, numa loucura da posmodernidade e da falta de informação, era acusado de ser Nazista!! Dáqui a pouco vão dizer que a coisa é genética.
Sei lá, mas acho que faltou o luto por parte de parte das esquerdas, que ainda não elaborou suas posições autoritárias e anti-democráticas. Turminha encrencada essa!
ps. Haná >>>aperta no botão Post and Publish para colocar tuas mensagens diretamente no ar.
beijos e abraços a todos
maurez </mauro> <!--12:42 PM-->
<Hana> maurão, keep us posted.
essa polêmica é quentissima e super importante pro meu (nosso) trabalho.
tô no meio de uma deadline e depois escrevo com calma.
abraços
HV </Hana> <!--1:32 PM-->
<mauro> >>>> A polêmica está no ar e achei que vcs gostariam de ler isso
A bomba vai explodir?
MV Bill
20/01/2003
Esse texto será curto e grosso !!!
Dei ao Paulo Lins, Katia Lund, Vídeo Filmes, O2, Globo Filmes e todos os seus aliados a chance de reverter e repensar uma postura social em relação à comunidade da Cidade de Deus. Todo mundo sabe do que estou falando. Eu nunca fiz críticas abertas ao filme. Apenas disse, e digo, que o Cidade de Deus ganharia o Oscar e que a nossa Favela ganharia o Oscar da violência.
Pois é, ninguém se mexeu, continuaram ignorando a capacidade que essas pessoas têm de pensar. Parece que a guerra vai ser inevitável! Acabei de apertar o botão. Agora, é começar a contar... Vou começar com uma entrevista coletiva no dia 06 de fevereiro na própria comunidade. Os interessados podem se inscrever pelo telefone (021) 2450 5125 e falar com Renata ou Carol!
Aviso: vou colocar todo mundo na bola. O mundo inteiro vai saber que esse filme não trouxe nada de bom para a favela, nem benefício social, nem moral, nenhum benefício humano. O mundo vai saber que eles exploraram a imagem das crianças daqui da CDD. O que vemos é que o tamanho do estigma que elas vão ter que carregar pela vida só aumentou, só cresceu com esse filme. Estereotiparam nossa gente e não deram nada em troca para essas pessoas. Pior, estereotiparam como ficção e venderam como verdade.
Fui omisso, sim. Por respeito à Katia Lund e ao Paulo Lins. Pela nossa amizade. Mas penso que com esse comportamento não digno, não estou sendo fiel aos meus princípios, à minha origem, à minha comunidade, e mais que isso, traí a minha própria consciência.
Todos eles sabem que não queremos dinheiro. Queremos apenas respeito. Eles, os donos do Cidade de Deus, têm o apoio da mídia. Mas nós, INFELIZMENTE, temos o apoio do ódio que é a única coisa que nos sobrou. Não queria aparecer, tanto que nem aqui nesse espaço eu falei sobre esse assunto. Por outro lado, quem falaria? Assumo aqui como meu esse papel. Alguém tem que dizer isso a eles. Eu estou dizendo!
A própria "Folha de São Paulo" acaba de produzir uma matéria na comunidade e eu me recusei a falar, novamente por respeito aos amigos, para não incitar a comunidade. Não falei por ter noção da minha responsabilidade. Só que estou cansado. Chegou a hora de botar o cachimbo na boca da cobra, sem me preocupar se ela vai tragar pelo nariz. Sem me preocupar com as consequências para cada um de nós. O certo é o certo, o errado é o errado.
Dia 06 de fevereiro o caô vai tá formado!
Ao tomar conhecimento da minha posição, algumas autoridades começaram a entender o nosso sentimento de abandono e começaram a se mobilizar, mas ainda acho pouco. O prefeito pode fazer 200 obras aqui na Cidade de Deus, o secretário nacional de Segurança pode fazer mais 200. Tomara que façam, já está prometido.
Mas que a humilhação pela qual estamos passando sirva de exemplo para outras comunidades que vivem na miséria. Se algum dia alguém trasformar suas vidas num grande circo peçam uma contrapartida, mesmo que seja um simples palhaço. Pois pelo menos alguma alegria estará garantida.
O Hermano Viana (eu que tinha minhas reservas quanto aos intelectuais vou começar a rever os meus conceitos) - se um terço do que o Celso Athayde falou a respeito desse maluco aí for verdade, a Cidade de Deus terá um débito eterno com ele. Imagino que ele seja contra, e a Cidade de Deus vai saber disso: só para vocês terem uma idéia, esse tal de Hermano aí, ao concordar que merecemos mais respeito, teve a coragem de vir aqui na favela, sábado passado, para discutir com os moradores, à noite, embaixo de chuva (ele deve ser louco!). E mais, teve a coragem até de "bater boca" com os "amigo" (ele é doido!). Depois disso ele descobriu que a comunidade nada mais queria a não ser "carinho".
Dia 06 taí. Mas antes eu quero desenrolar com a favela pra saber o que ela pensa.
Voltando: eu agradeço à sensibilidade do Prefeito, do Secretário e do Hermano. Mas "o filme" tem que se posicionar também. Eles têm a obrigação de sentar nessa nossa mesa, e repensar o significado da palavra "amor" . Aí sim, eu poderei ver a Cidade de Deus feliz para esperar o dia do Oscar chegar e ter algum motivo para comemorar. Pois até aqui, só a polícia se beneficiou dessa desgraça retratada em 35 milímetros!
O2 e Vídeo Filmes: "Deus existe e só ele pode ajudar a ganhar um Oscar, mas talvez seja interessante contar com as preces da Cidade Dele."
Até.
MV Bill </mauro> <!--4:20 PM-->
<mauro> Ôpa! Estamos em 2003 e o Lula já está mandando no pedaço. Virou o gerente do boliche. Sensação de alívio e entusiasmo nas ruas. Pela televisão Brasília estava como nunca, transformada num parque modernista cercada pelo povo. Finalmente o país encerrou um cíclo completo de sua história republicana, talvez o mais importante, pois agora todo o espectro político entrou no jogo. Em versão brasileira zona sul carioca, Diogo Maynardi faz o teatro do enfurecido com o voto popular, o resto é só embasbacamento. Daí basta a Globo colocar no ar uma velhinha chorando de emoção, uma criança feliz, uma gafe com o Rolls Royce oficial, outra com a passagem da faixa, e isso basta para nos sentirmos em casa. Ssshhh!!
Bem diríamos que passei de ano sob os efeitos de um flashback genérico. Primeiro porque durante as férias li os dois volumes de As Ilusões Armadas, de Elio Gaspari. O livro relata a história do regime militar desde a crise institucional do governo Jango até o período Geisel. Horários de telefonemas e sucessão de fatos e articulações que parecem um filme. Fica-se pensando na tropicália e na turma de 21 a 30 anos que foi parar nas mãos do DOPS, ou no Araguaia, sem lenço nem documento.
Daí na passagem por Porto Alegre só rolava música dos anos 80 nos bares e rádios, e encontrei um amigo de escola que logo que me viu disse: "Pô cara, que legal ver que tu não mudou (sic) meu chapa!!". Putz! Fiquei pensando que algo deve estar errado pois o Lula é o presidente, eu moro em outra cidade, estou casado e com filho, tenho outra profissão (ele me conheceu músico) e o sujeito diz que eu não mudei nos últimos quinze anos!!! Sei lá, o cara talvez estivesse entusiasmado ao me ver.
E essa guerra no Iraque??
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</mauro> <!--3:10 PM-->
<r> salve 03. de volta a terra que não é a nossa, após visita muito interessante a Portugal, região de Lisboa e arredores. Impressões: cidade bela, caindo aos pedaços. existe uma padaria a cada 50 metros, deliciosas, com um café com leite de tirar o chapéu. Incrível ver como as pessoas, de um modo geral, tem fisionomias parecidas com o povo de São Paulo e Rio. O cara atrás do balcão se movimenta de um jeito que nos é muito familiar! E eles falam o protuguês correcto, completo com plurais e formalismos que há muito abolimos. É como se nós, brasileiros, fossemos os filhos bastardos, americanos, subvertendo a língua e cultura da mesma forma que os (norte) americanos em relação a Bretanha. De tudo de bom e prazeiroso que vimos e curtimos, frustrou-nos um pouco o ranço da velha europa, a população velha, o conservadorismo, e tantos outros traços ruins como a preguiça e o descaso que foram tão bem transmitidos aos genes brasileiros. Conclusão: entre uma e outra parada por aqui, e vendo a loucura norte-americana de longe, dá pra acreditar, do fundo do coracão, que a alma da américa latina está em melhores condições para encarar de frente o que ainda está por vir. Compreende?
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